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06/05/2019 Sistema CNDL | SPC Brasil
Sabíamos que não seria uma tarefa fácil, mas foi, acima de tudo, recompensadora, por enxergar a capacidade humana de se superar. Era domingo e nossa missão era percorrer as lojas de roupas masculinas com um único objetivo: encontrar o terno perfeito para o noivo, Tomás.
Toda a família estava reunida na empreitada, coisa rara nos últimos tempos. A noiva, Mariana; eu, a sogra; Debora, a madrasta; e Rodrigo, o cunhado, cuja experiência como vendedor de roupas masculinas em um shopping era fundamental para o cumprimento da nossa missão.
Tomás é deficiente visual desde que nasceu. Nunca viu a luz do dia nem, propriamente, as cores, mas já sabia o que queria e o que favorecia seu visual de noivo-galã. “Quero um terno azul, para combinar com a cor dos meus olhos”.
Opa! Já era um norte. Embora ele não tivesse a dimensão do que era realmente o azul, acertava em cheio na cor que mais lhe caía bem. Todos em um só carro, partimos.
Uma jornada de loja em loja
Na primeira loja, um terno azul-marinho, uma camisa branca, tudo na promoção: mil e duzentos reais. Era, claro, uma pechinha.
O vendedor, que de início parecia perdido na tarefa de atendê-lo, se despiu do receio e se envolveu na tarefa. Vestiu-o, ajeitou o traje ao corpo e explicou os ajustes necessários, com toda a dedicação de quem vivia a experiência pela primeira vez. “Nossa, ele ficou lindo demais!”, exclamou a noiva.
Certo de que estava impressionando, Tomás disse ter gostado do terno, se sentido confortável, mas gostaria de ver outras opções.
Atendendo ao princípio de pesquisar a melhor opção, partimos para a segunda loja, vizinha à primeira.
Ao entrar, mais um susto dos vendedores e, de imediato, a disposição de atender, da melhor forma possível, a quem, a princípio, não levará a roupa pela beleza, tal como a conhecemos. “Vou me casar e queria algo especial: um terno azul, mas tem que ser mesmo especial, algo que impressione e que, na festa, só de olhar, todos saibam que eu sou o noivo. Ah, o azul é para combinar com os meus olhos”, explicou Tomás.
Com simpatia e dedicação, o atendente ouviu seu pedido e trouxe um traje lindíssimo, bem cortado, com uma leve textura no padrão “príncipe de Gales” e seu xadrez inconfundível.
A certeza da cor prevaleceu até o momento em que Tomás emendou com a seguinte pergunta: “Como é o azul mesmo?”. Aí todos nós, inclusive o vendedor, nos vimos diante de nossa própria incapacidade. “Azul é a cor do mar, do céu”, tentou Debora, com sua habitual didática de professora.
Mas a dúvida de Tomás aumentou: “Mas, então, não ficará tudo da mesma cor? Sem contrastes?”.
“Não, porque existem vários tons de azul”, respondeu Mariana.
“Azul é uma cor muito nobre, elegante, sóbria”, disse Rodrigo.
A melhor resposta partiu do vendedor, que, ao contrário de nós, não convivia com um deficiente visual há mais de dez anos:
“Pense em uma cor fresca. Sinta o peso do tecido caindo sobre seus ombros e sua cintura. Agora, sinta a textura dos fios se entrelaçando no xadrez”, disse o comerciante, tomando Tomás pelas mãos e fazendo-o correr suas sensíveis pontas dos dedos sobre o padrão inglês do traje.
“Nossa, lindo este terno! É este mesmo! Perfeito! Vou levar”.
O alívio tomou conta de todos nós e, diante do que havíamos presenciado, concluí que vender é mais que criar necessidades, como muitos manuais pregam. Vender é entender a necessidade de quem compra e atendê-la da melhor forma possível, sem contar que foi um prazer enorme passar a tarde no shopping com todos os meus meninos.
Por Luciana Lima
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